O Festival do Rio é um dos maiores eventos cinematográficos da América Latina, não apenas pela quantidade de títulos exibidos, mas também e, sobretudo, por conta da relevância desses filmes, em sua maioria, premiados previamente em alguns dos mais representativos certames internacionais. Mas, o que mais chamou a atenção na edição 2017 do evento foi a profusão de filmes brasileiros. Passaram pelas telonas da cidade, nada mais, nada menos que 75 produções nacionais, um número recorde e, portanto, histórico. É sintomático esse volume oriundo de um aquecimento evidente no âmbito da dimensão interna, com alguns bons exemplos de coprodução, engrenagem produtiva ainda pouco utilizada por nossos conterrâneos, mas que, aos poucos, vai se apresentando como uma saída não somente viável, mas como um terreno fértil a ser semeado. É o Cinema Brasileiro dando mostras da sua potência, contrariando os cenários econômico/social/político pessimistas, se impondo como uma força econômica relevante, algo que interessa sobremaneira aos profissionais que se dedicam à Sétima Arte.
Como professor e jornalista, esse cenário me traz felicidade, além dos motivos mais óbvios, por permitir a percepção do cinema como uma instância de resistência. Não sabemos até que ponto as nossas sucessivas crises atravancarão a produção nos próximos anos, mas, por enquanto, estamos de pé, enfrentando as adversidades no melhor estilo, ou seja, produzindo arte e refletindo sobre ela. Em praticamente todas as sessões em que estive, encontrei algum aluno (ou vários deles) da Escola Darcy Ribeiro, disposto a discutir antes e depois das sessões acerca dos meandros dos filmes, ponderando méritos e deméritos. Isso demonstra o tipo de espírito que unifica quem busca a Darcy para especializar-se. Mesmo em meio a programação normal de aulas, a galera entendeu por bem fazer esforços para atualizar-se, a fim de acompanhar a produção contemporânea, num processo que, seguramente, enriquece os conteúdos postos em sala de aula. Não se faz cinema sem refletir sobre cinema, e o que se viu nesses 10 dias de Festival do Rio foi a turma da Darcy exercitando o olhar. Nos próximos anos, seguramente, essa turma povoará as telas cariocas de filmes e provocará pensamentos.
Marcelo Müller
Editor e Crítico do Papo de Cinema
Professor de Cinema Brasileiro da Escola de Cinema Darcy Ribeiro