O grande mestre do cinema de terror brasileiro, o cineasta e ator José Mojica Marins, nosso Zé do Caixão, falecido nesta quarta (19/02), aos 83 anos, nos deixa seu legado: dirigiu mais de 40 filmes e atuou em mais de 60. Nascido em uma sexta-feira, 13 de março de 1936, em São Paulo, Mojica ficou conhecido no cinema brasileiro principalmente pelos seus filmes de terror, normalmente feitos com pouquíssimo orçamento e muita criatividade.
Mojica aprendeu a fazer cinema de forma autodidata. Ganhou de aniversário do seu pai, gerente de cinema, uma câmera e com ela fez uma série de curtas com amigos do bairro. Seu primeiro estúdio foi em um galinheiro improvisado. E nunca mais parou de filmar. Aos 17 anos, fundou a Companhia Cinematográfica Atlas, recrutando atores para atuarem com insetos e outros bichos. Encontrou aí sua vocação para o terror escatológico.
Estreou na produção de longas-metragens com A Sina do Aventureiro (1958), e seguiu por trás das câmeras até o lançamento do seu trabalho mais reconhecido e aclamado pela crítica: a trilogia de terror, iniciada com À Meia-Noite Levarei sua Alma (1964), primeira aparição de seu personagem mais famoso, o Zé do Caixão, ou Coffin Joe, como ficou conhecido fora do Brasil.
A ideia para o personagem, cujo nome real é Josefel Zanatas — um agente funerário sádico, que veste uma cartola, tem unhas longas e a vontade de ser pai de uma criança perfeita — surgiu de um pesadelo. A trilogia teve sua segunda parte lançada em 1967, Esta Noite Encarnarei seu Cadáver, e só foi concluída em 2008, com Encarnação do Demônio.
Mais do que uma referência para o cinema de terror brasileiro, Mojica foi um guerrilheiro da cinematografia, tendo financiado a maioria dos seus filmes com recursos próprios e jamais abandonando seu estilo. Mas, para além do terror, trabalhou com filmes de faroeste, drama, aventura e filmes pornográficos. Entre eles, também destacam-se O Estranho Mundo de Zé do Caixão (1968), O Ritual dos Sádicos (1970), Delírios de um Anormal (1977) e A Encarnação do Demônio (2008).
Mojica também tem livros publicados e foi apresentador de TV. Na Bandeirantes, apresentou o Cine Trash e, no Canal Brasil, o programa Estranho Mundo de Zé do Caixão. O cineasta também conquistou reconhecimento internacional, inclusive do público e da crítica dos Estados Unidos. Para Muitos estudiosos, José Mojica Marins não foi apenas referência no cinema brasileiro mais popular. Por seus métodos de produção e ligações na Boca do Lixo, ele também teria sido decisivo para o surgimento do cinema marginal.