Iniciada em fevereiro, a mostra L.A.Rebellion foi temporariamente interrompida devido às chuvas que fecharam o IMS Rio. O centro cultural retoma agora a mostra, que será exibida de 15 a 17 de março. A seleção apresenta filmes produzidos por estudantes afro-americanos que, entre as décadas de 1970 e 1980, cursaram a Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), em um programa de inclusão étnica. Este amplo conjunto, marcado pelas críticas à indústria de Hollywood, foi designado pela crítica, posteriormente, como L.A. Rebellion.
A mostra no IMS Rio reunirá 12 títulos da L.A.Rebellion, entre curtas e longas exibidos em cópias em formatos digitais ou em 16 mm, cedidas pelo arquivo da UCLA. A curadoria é de Luís Fernando Moura, pesquisador e programador de cinema, e de Victor Guimarães, crítico, curador e professor. A programação inclui debates e apresentações de críticos e pesquisadores, como Janaína Oliveira, docente do Instituto Federal do Rio de Janeiro.
A mostra traz filmes de nomes célebres, como Charles Burnett (vencedor de um Oscar honorário em 2018) e Julie Dash (primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem estreado comercialmente nos EUA), além de outros menos conhecidos, como Zeinabu irene Davis, Alile Sharon Larkin e Billy Woodberry. Compromissados com um projeto de cinema autônomo, eles construíram suas obras na UCLA, em um contexto ainda marcado pelas tensões das lutas pelos direitos civis.
Segundo os curadores, os diretores buscavam novas formas de representação, produzindo um cinema que fosse voltado para o público negro. “Contra o que, exatamente, eles se rebelavam? Em primeiro lugar, contra o quase século de imagens que os precedia, esse espelho embaçado de Hollywood em que, na maioria esmagadora do tempo, negros e negras não podiam se reconhecer. Era preciso inaugurar um outro ambiente cinematográfico, próximo às sensibilidades e aos desejos que surgiam das comunidades afro-americanas”.
Realizados sempre com orçamentos mínimos, os filmes eram produzidos de forma colaborativa. O cineasta Charles Burnett, por exemplo, atuou como roteirista, fotógrafo e operador de câmera em várias obras dos seus colegas. “Os créditos dos filmes revelam como essa produção era oriunda de um fazer em comunidade, no sentido mais simples e poderoso da palavra”, reiteram os curadores.
Ainda que com tramas e estilos distintos, os diretores tocavam em pontos em comum, como a busca de uma identidade negra autônoma, presente em Diário de uma freira africana (1977), de Julie Dash, ou Seus filhos voltam pra você 1979), de Alile Sharon Larkin. Em suas obras, eles também dialogavam com os cinemas modernos produzidos na África e na América Latina, em busca de um novo olhar que se opusesse aos modelos coloniais.
No conjunto de filmes que compõe a L.A. Rebellion, também se destaca a produção das cineastas, cujas obras questionavam os estereótipos associados à figura da mulher negra. No longa-metragem Mulher africana, EUA (1980), por exemplo, a diretora Omah Diegu se inspira em sua própria trajetória para contar a história de uma imigrante nigeriana que luta para sustentar sua filha. A diretora Zeinabu irene Davis, por sua vez, constrói uma reflexão sobre o corpo feminino no curta Ciclos (1989).
Esta seleção evidencia trabalhos que, ainda que pouco conhecidos pelo público, se tornaram uma grande referência para a produção contemporânea. “Poucas vezes na história existiu, até nossos dias, um conjunto tão vigoroso de filmes feitos de preto para preto, de preta para preta, e que se afirmassem com tamanhas altivez e independência. Os filmes dessa geração jovem e talentosa representam um tesouro dos mais valiosos para o presente e o futuro do cinema”, afirmam os curadores.
Serviço
Mostra L.A. Rebellion
15 a 17 de março
IMS Rio
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
21 3284.7400
Ingressos: R$8 (inteira) e R$4 (meia)
Site: https://ims.com.br/